domingo, 27 de agosto de 2017

Além da superfície

Érima de Andrade

Uma amiga, Mônica Jordão, comprou uma muda de rosa, num vaso. Comprou porque gostou, e é mesmo uma planta linda. Foi bem cuidada, se abriu, e
surpresa! Veio com filhotinhos! 


Muito além da superfície, ela tinha um jardim interno, e o apresentou para minha amiga, florindo como um buquê. Sim, de dentro da rosa saíram rosinhas lindas. Vou ilustrar esse post com as fotos que Mônica fez durante todo o processo. Como ela mesma diz: “A natureza responde ao cuidado”. E como respondeu!


Todos nós temos o nosso jardim interno, aquele lugar dentro de nós, onde nos sentimos seguros, protegidos e amados. Mas nem todos cuidam desse jardim.


Se você é daquele tipo de jardineiro que cultiva seu espaço interno com sentimentos bons, sorrisos, compreensões, delicadezas do cotidiano, amigos, amores, gratidão, um dia, sem nem você se dar conta, a primavera vai se abrir bem diante de todos que convivem com você. Como a rosa fez.


Você não precisa se programar para isso, o seu jardim bem cuidado simplesmente aparece. De tanto plantar sorrisos, gentilezas, cuidados, atenções amorosas, a vida lhe sorri de volta. Não tem jeito, você, de fato, vai sempre colher o que plantou. E isso é bom.


Se você é um jardineiro distraído, pode ser que nem tenha percebido que andou deixando cair em seu jardim, sementes de mágoa, tristeza, angústia, frieza, medo, ciúme, e ervas daninhas de todo tipo. Se voltar a ficar atento, pode arrancá-las assim que surgirem. Se não viu que estavam se desenvolvendo, elas crescem, sufocam suas flores, e quando se der conta, seu jardim secou e suas flores morreram. 


Eu tive uma supervisora que repetia sempre: “com apenas dois dedos arranco qualquer árvore do meu jardim. Como? Arrancando assim que nascem.” É isso. Se estiver atento, você arranca com dois dedos inclusive um jatobá. Com atenção, só as árvores que você escolher plantar, vão crescer no seu jardim.

                                                      
Se você deixou seu jardim de lado por muito tempo, além de precisar arrancar, até a raiz, as ervas daninhas que nasceram, precisará cuidar do solo. Nesse caso, é o perdão que fertiliza esse solo ressecado e sem vida, o deixando pronto para receber as suas novas sementes.


Mas só plantar novas sementes não basta. Para ter um jardim colorido, florido, gostoso de estar, você precisa cultivar desse seu espaço de crescimento pessoal, precisa praticar diariamente sua reforma íntima, ou seja, estar atento para arrancar as sementes ruins e só alimentar as boas sementes. Esse é o caminho do autoconhecimento, que 
é a capacidade de olhar para si mesmo com honestidade e isenção. É com o autoconhecimento que você constrói e mantém o seu jardim amoroso. 


Para dar certo e ser um bom jardineiro, você precisa desenvolver habilidades que permitam aperfeiçoar o seu trabalho de autoconhecimento, tais como: auto-observação; reservar diariamente momentos de silêncio interno com a respiração consciente ou meditações; alimentar seus quatro aspectos, emocional, intelectual, espiritual e físico; e desenvolver apreciação e gratidão por tudo que lhe acontece.


A gratidão é uma consequência do perdão. Ela implica em compreensão e aceitação da sua história de vida. A gratidão só é possível quando o coração está aberto, e o coração só se abre quando você compreendeu, perdoou e, portanto, aceitou. 


Há uma arte na gratidão, é claro. Assim como qualquer outra coisa, você só tira dela o que você colocar nela. “Após vinte dias semeando apreciação, flores começam a aparecer. Em mim, uma grande clareza de propósito se faz presente: eu sinto meu caminho com mais nitidez, meus pés estão mais ágeis, sentem o chão onde piso de forma mais apurada, meus passos são mais firmes... tudo isso por ter feito a escolha consciente de direcionar meu olhar para o que me nutre e de amar imensamente tudo o que vem até mim, tudo o que sou.”Bárbara Petri 


Seja grato. Cuide do seu jardim com leveza, carinho, lucidez. Cultive nele flores/amigos e flores/amores. Aproveite o jardim para integrar toda a sua história. Assim, bem diante dos seus olhos, muito além da superfície, quando você menos esperar, a primavera se abrirá para você.


Hoje, se pudéssemos ver o seu jardim, como ele estaria? 

Está tendo dificuldades para acessar seu jardim interno? 



Tudo bem, acontece. Que tal participar de um dos grupos Caminhos Internos, que estou formando? O mínimo que pode acontecer, é o caminho até o seu jardim, ficar mais claro. 
Dê uma olhada nesse post aqui para saber mais sobre essa proposta de trabalho.

Bora conhecer seu jardim?  

domingo, 20 de agosto de 2017

Terapia da Natureza

Érima de Andrade

Sou apaixonada por plantas. Essa paixão me levou a estudar paisagismo, antes de descobrir a terapia ocupacional e suas possibilidades de atuação em saúde mental. Por isso é fácil entender como fiquei entusiasmada ao ler uma
matéria sobre pesquisas que relacionam as florestas com melhoras na saúde.

Diz a matéria, que o ambiente natural nos faz sentir restaurados e melhora o nosso desempenho mental. O pesquisador da Universidade de Utah, David Strayer, afirma que as florestas são o antídoto perfeito para as incansáveis distrações que golpeiam o cérebro moderno. A desaceleração provocada num passeio na natureza, faz diferença no pensamento qualitativo”.

A tese do David Strayer: estar na natureza permite que o córtex pré-frontal, o centro do comando do cérebro, descanse e se recupere como um músculo muito exigido.

Sua pesquisa centrada em como a natureza melhora a solução de problemas, se soma a teoria de que são os elementos visuais da natureza que reduzem o estresse e a fadiga mental. Esses estímulos promovem uma concentração suave que permite ao cérebro perambular, descansar e se recuperar.

David Strayer explica que “nenhum estudo dá uma explicação completa da experiência do cérebro na natureza. Sempre haverá algum mistério, e isso é bom. Assim vamos a natureza não porque a ciência nos diz que ela faz alguma coisa, mas pelo que ela nos leva a sentir.

Foram os sentimentos provocados pela natureza, que fizeram que em 1865, o arquiteto e paisagista Frederick Law Olmsted, que projetou o Central Park de Nova York, insistisse com parlamentares que protegessem o vale do Yosemite das construções urbanas. Frederick em seu pedido, afirmou que “é um fato científico que a contemplação de cenas naturais de caráter impressionante é favorável a saúde e ao vigor dos homens.”

Também por puro instinto, Ciro, o Grande, há 2500 anos, construiu jardins para relaxamento na movimentada capital da Pérsia. Mesmo sem provas irrefutáveis, no século XIX, os americanos Ralph Waldo Emerson e John Muir criaram os primeiros parques nacionais do mundo, afirmando que a natureza tinha poderes curativos para mente e corpo.
Hoje já é possível comprovar tudo o que eles afirmavam. Pesquisadores da Inglaterra constataram que quem mora perto de mais espaços verdes se queixa menos de sofrimento mental.

Em 2009 pesquisadores holandeses encontram incidência menor de 15 doenças, como depressão, ansiedade, e enxaqueca, em quem mora a menos de 1 km de espaços verdes.

Richard Mitchell, pesquisador escocês, encontrou menos doenças em pessoas que moravam perto de espaços verdes, mesmo quando não os usavam. Afirmou ele: “nossos estudos mostram esse efeito restaurador, quer a pessoa vá passear, quer não.”

Já se demonstrou em pesquisas, que quem avista pela janela árvores e matos, se recupera mais depressa em hospitais, tem melhor desempenho escolar, e exibe comportamento menos violento.

Numa pesquisa da Universidade de Chiba, voluntários que caminhavam em florestas foram comparados a quem caminhava no centro das cidades. Os da floresta conseguiram diminuir a ansiedade, e seus exames mostraram uma redução de 16% do cortisol, o hormônio do estresse.

Pesquisadores sul-coreanos constataram, com ressonância magnética, que os voluntários que olhavam cenas urbanas tinham maior fluxo sanguíneo na amígdala, que processa o medo e a ansiedade. Os que olhavam cenas naturais iluminavam o córtex cingulado anterior e a ínsula anterior, áreas associadas a empatia e ao altruísmo.

Yoshifumi Miyazaki, cientista japonês, acredita que nossa mente e corpo relaxam em ambientes naturais, “porque nossos sentidos se adaptaram para interpretar informações sobre plantas e riachos, e não sobre tráfego e prédios.”

Lisa Nisbelt, da Universidade Trent, diz que as pessoas subestimam a felicidade que pode ser alcançada ao ar livre. “Não pensam”, diz ela, “que é um jeito de aumentar sua felicidade. Pensam que outras coisas farão isso, como ir às compras, ou assistir à TV.” E continua, “evoluímos na natureza. É estranho estarmos tão desligados dela.”

Nooshin Razani, é uma médica do Hospital Infantil Benioff, que está tratando depressão e ansiedade com a ajuda da natureza. Como parte de um projeto-piloto, ela prepara pediatras do ambulatório para receitar aos jovens pacientes e suas famílias, visitas regulares a parques próximos.

Para que pacientes e médicos se envolvam com o tratamento, ela explicatransformamos o espaço clínico de modo que a natureza esteja em toda parte. Há mapas na parede para que seja fácil conversar sobre aonde ir, e fotografias de matas locais.”

Em alguns países, como a Finlândia, onde era elevado o número de alcoolismo, depressão e suicídio, a natureza já está incorporada a politica de saúde mental oficial do governo.

Equipes de pesquisa do Instituto de Recursos Naturais da Finlândia, recomendam uma dose mínima de 5 horas na natureza, por mês, para melhorar a saúde mental. Comprovaram que um passeio de 40 a 50 minutos, na natureza, é suficiente para causar mudanças na fisiologia, no humor e provavelmente na atenção.

O professor Kalevi Korpela, da Universidade de Tampere, ajudou a projetar uma dúzia, do que ele batizou de “trilhas poderosas”, que estimulam a atenção plena e a reflexão. Placas nas trilhas dizem coisas como: você pode se agachar e tocar uma planta.

Na Coreia do Sul foram criadas Florestas Recreativas Natural. Os funcionários e guias são chamados de “instrutores de cura florestal”. Eles guiam os passeios e são responsáveis por um programa de 3 dias, patrocinado pelo governo, que trata o transtorno de estresse pós traumáticos nos bombeiros.

O cientista social sul-coreano, Shin Won-Sop, estudou o efeito da terapia das florestas em alcoólatras. Como ministro das florestas, imagino que seja um cargo equivalente ao de ministro do meio ambiente, tornou o bem-estar humano uma meta formal do plano florestal do país. Com essa medida, os vistantes das florestas recreativas, passaram, em 1 ano, de 9 para 12 milhões. Ele diz que “é claro que ainda usamos as florestas para extrair madeiras, mas a área da saúde agora é o fruto principal.”

Seu ministério tem dados que indicam que a cura florestal reduz o custo médico e beneficia a economia local. Seus estudos agora buscam colher dados sobre doenças específicas e qualidades naturais que fazem diferença. "Que tipos de florestas são mais eficazes?" É a pergunta que buscam responder.

Como os estudos falam de contato com a natureza, não podemos deixar de fora o efeito benéfico dos passeios na praia. A velha sabedoria de que estar perto do mar é bom para a sua saúde é verdade, e vários estudos já mostraram.

De acordo com a pesquisadora Lora Fleming, da Universidade de Exeter, o tempo passado à beira-mar tem muitos efeitos positivos sobre a saúde e bem-estar.
O pesquisador Mathew White e seus colegas também descobriram que as pessoas que viviam perto da costa relataram uma melhor saúde. E que ir para perto da praia, para a aproximação do mar melhora significativamente o bem-estar. “O ambiente à beira-mar além de reduzir o stress pode estimular a atividade física”, completa White.

“Quando você coloca uma pessoa num ambiente de praia”, diz White, também de Exeter, não vai haver nenhuma grande surpresa para você. As pessoas vão relaxar”.

“Estes estudos sugerem que a exposição ao oceano pode ser uma forma útil de terapia”, disse Lora Fleming, “por exemplo, o surf pode melhorar o bem-estar das crianças com problemas. Mas só os estudos futuros poderão dizer qual a “dose” ideal de tempo interagindo com o oceano, e quanto tempo os efeitos na saúde se mantêm.”

Mas mesmo sem estudos, há quem diga que bastam cinco minutos no sol para acabar com qualquer depressão. "O bom humor está diretamente ligado à luz solar, porque ela estimula a glândula pineal, responsável pela produção de endorfinas em nosso cérebro. Estas substâncias é que promovem a sensação de prazer e bem-estar", afirma a médica Cláudia Magalhães, de Recife. "Além disso, a radiação solar diminui a taxa do hormônio melatonina, cuja produção aumenta em condições de estresse, podendo levar à depressão", esclarece o médico José Carlos Greco, também de Recife.

A conclusão deles: “é por isso que nos sentimos felizes e reenergizados na praia, onde ainda desfrutamos de uma agradável sensação de liberdade”.

Bora aproveitar o domingo para uma terapia na natureza?

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Dia dos Pais

Feliz dia!

Hoje celebrem seus pais onde eles estiverem.
Se por perto, esteja juntos.
Se desencarnados, estejam juntos.
É o amor que nos une.
Por abraços ou pensamentos, da maneira que for possível, estejam juntos.
Te amo para sempre Pai!
Meu amor segue com você!

Érima de Andrade



domingo, 13 de agosto de 2017

Mudanças

Érima de Andrade

Freud sentenciou:“Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”.

É verdade, a dor é motivadora, mas o amor também é. Mesmo assim, talvez
por associar mudança sempre com dor, a maioria das pessoas tem medo de mudar. De mudar a vida, ou de mudar qualquer coisa na vida.

Mudar é bom, mas “tem que” mudar? Por que? Se tudo está fluindo bem, se você está feliz com sua vida, por que “tem que” mudar?

Ter não tem. Mas
as mudanças ajudam na sua qualidade de vida. Qualquer mudança que você faça contribui para a sua saúde cerebral. E com o cérebro em ordem, todas as demais funções do organismo são favorecidas.

O cérebro não pensa para fazer movimentos repetitivos.
Se por um lado isso é desejável, por outro, o excesso de rotina, limita o cérebro, que vai entrando num processo de desuso, perdendo flexibilidade, atrapalhando a capacidade de assimilar conhecimentos.

Paula Abreu, na sua página virtual, pergunta:"Você alguma vez já sentiu que todos os seus esforços, todos os dias, são para construir uma vida que, lá no fundo, uma vozinha diz para você que não é o que você quer?" É dessa mudança que estou falando.

Uma mudança para quebrar suas barreiras, amarras e limitações. Mudar para ir ao encontro do que não conhece.  Mudar para ver e idealizar novas possibilidades na sua vida. 

Mesmo que tudo pareça impossível no momento,
mude alguma coisa. Saia da sua zona de conforto. Abra mão do que já não lhe cabe, dê um salto de qualidade na sua vida.

Eu sei, mudar dá trabalho. Até você acostumar com a mudança, você fica bem atrapalhado. 
Mas como experimentar o novo senão houver mudanças?

A mudança ideal é aquela decidida por você. Não existe um caminho mais fácil para a frustração do que fazer uma promessa de mudança que você não está plenamente disposto a cumprir, apenas por que “tem que” ser feito para agradar aos outros, a sociedade, ao companheiro, aos colegas de trabalho. 

Mude, mas faça por você, para se estimular, para se desafiar a novos aprendizados.
Uma vez que você decida mudar, você pode fazer isso.

Mas vá devagar. 
Busque novos caminhos reconhecendo seus limites, capacidades e apoios. Vá um passo de cada vez atrás das suas energias transformadoras, mas sempre com atitudes harmônicas e sadias. Nada de fazer coisas que vão lhe magoar ou dar medo. Ponderação é o caminho, pois você não vai mudar de uma hora para outra. É um processo.

Se não dá para mudar tudo de uma vez, também não dá para ficar parado.
Então escolha sua mudança e priorize por onde começar. Que tal colocar uma meta por semana? O que você pode fazer para criar resultados favoráveis para você nesta semana?

Entre todos os seus objetivos de mudança, qual você decide que será seu pontapé inicial? Qual hábito novo renovaria as suas energias para seguir com os seus objetivos de mudança? Seja lá o que for, comece.
Você merece ser mais feliz.

O Edson Marques tem um texto com
várias propostas de mudanças possíveis para todo mundo. Eu gosto tanto do texto, que já o coloquei várias vezes aqui no blog. Espero que lhe inspira a mudar.

"Mude.
Mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de TV, compre outros jornais, leia outros livros, viva outros romances!
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova Vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde, ou vice-versa.
Escolha outro mercado, outra marca de sabonete, outro creme dental.
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas.
Troque de carro.
Compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
Arrume um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso,
mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude.
De novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!"
Edson Marques

domingo, 6 de agosto de 2017

Coisinhas da Vida

Érima de Andrade

Esse ano tenho desejado aos aniversariantes que eles tenham um ano cheio de coisinhas felizes, porque acredito, mesmo, que
a felicidade está nas pequenas coisas. Esse texto da querida Teresa Bessil, que está no livro dela Bordados do Coração, nos lembra como as coisinhas boas nos fazem bem! Boa leitura!

“Rir quando acordamos, porque acordar não é coisa garantida na hora de ir dormir. Andar devagar pela rua, somente para ver como é andar devagar pela rua em meio ao mar de gente atarefada demais para andar devagar pela rua. Abrir a janela para arejar a casa e ficar um longo tempo olhando o céu, daquele jeito que o olho se perde de tão profundo o azul sem nuvens, e ficamos ali, olhando nada, quase vendo tudo.

Acordar no meio da noite e ficar ouvindo os pequenos barulhinhos que só se mostram quando a cidade dormiu. Ouvir uma música nova e ficar sem saber se gosta ou não. Olhar para o amado que dorme acompanhando sua respiração e ficar comovida com a curva de sua boca, mesmo depois de décadas dormindo ao seu lado. Entrar em uma livraria só para sentir o cheiro dos livros enfileirados nas prateleiras, joias que apenas deixamos que repousem por ali, já que não temos tanta pressa de coisa alguma e ainda temos uma pilha de novidades em palavras que nos esperam em casa. Andar de mãos dadas na beira da estrada, vendo aquela flor pequena que nunca antes havia. Inventar nomes para as flores. Veja que linda essa Julietinha. Meu Deus, quantas Gertrudes nessa estrada. Aplaudir cada enfeite de Natal que penduramos na árvore.

Rir muito de qualquer coisa, só porque é bom rir muito de qualquer coisa. Ficar calado um tempão enquanto andamos juntos pela calçada. Procurar a lua no céu. Achar que a borboleta que cruzou por ali vinha trazendo um recado e se colocar a pensar nos anjos até virar nuvem pequena ou algo assim. Ver um filme muitas vezes, antecipando o gozo de cada cena que nos faz rir ou chorar. Fazer aviãozinho de papel. Parar o que se está fazendo somente porque o sol entrou de um jeito pela casa que deixou tudo dourado – parede, cadeira e sonho. E ficar olhando aquele dourado até sumir, coisa que logo se dá.

Fechar o olho e lembrar de um cheiro. Ficar em silêncio depois que lemos algo que nos move. Fazer tudo mais devagar de vez em quando, principalmente beijo. Beijar na testa com um jeito de ressaltar a alegria da amizade. Beijar bem de leve nos lábios, só pra deixar o corpo tremer antes que tudo aconteça. Sair escrevendo o que nos vem à cabeça e de repente parar, só porque nos lembramos das pessoas queridas que nos leem. Ler um poema muitas vezes como se fosse a primeira vez, não porque não temos memória, mas porque celebramos o ineditismo do viver.

Pois era isso que eu ia lhes dizendo. Tem quem considere viver uma baita perda de tempo. Justo porque viver habita esse monte de coisas efetivamente sem qualquer função. Coisas, situações, sonhos, momentos. Pequenas e grandiosas coisas nas quais a vida simplesmente nos habita de um jeito meio maroto. Quase simples." Teresa Bessil

 (Bordados do Coração - "Perda de tempo", pág 29)

Que você tenha muitos momentos contentes todos os dias.